terça-feira, 17 de agosto de 2010

O AUTO-AMOR, ESCUTANDO OS SENTIMENTOS


Por Carlos Pereira

Jesus Cristo, indagado por um doutor da lei judaica sobre o maior mandamento, assim respondeu: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Este é o maior e primeiro mandamento. E eis o segundo, que é semelhante a aquele: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas estão contidos nestes dois mandamentos”. Qual deles é o mais importante? Evidentemente que eles se interagem entre si, mas como se pode amar a Deus e ao próximo sem primeiro se amar?

O ato de amar a si próprio é passível de se aprender e o mais genuíno ato de amor a si consiste na laboriosa tarefa de fazer brilhar a luz que há em nós. Isto, porém, não ocorre do dia para a noite, o auto-amor é um aprendizado de longa duração, até porque amar é uma lição para a eternidade.

O amor a si não se confunde com o egoísmo, porque quem tem atitude amorosa consigo está centrado no self. Conseguiu deslocar o foco de seus sentimentos para a fonte de sabedoria e elevação, criando ressonância com o ritmo de Deus. Amar-se é ir ao encontro de si mesmo, como denominava Carl Gustav Jung.

Ao amarmo-nos, começamos a vencer o individualismo e partimos para conquistar a nossa individuação, isto é, o processo paulatino de expressar nossa singularidade, a “Marca de Deus” em nós; o ato de talhar a individualidade, aquele ser distinto e único que está latente dentro de nós. Para chegarmos a nossa individuação, é necessário aprender a escutar a nossa alma.

Escutar a alma é aprender a discernir entre sentimentos e o conjunto variado de manifestações íntimas do ser, sedimentadas na longa trajetória evolutiva, tais como instintos, tendências, hábitos, complexos, traumas, crenças, desejos, interesses e emoções. Ao escutar a alma, haveremos, inevitavelmente, de encontrarmos a nossa luz, mas também a nossa sombra, que somente se tornará uma ameaça se não for reconhecida. A nossa sombra só pode ser prejudicial quando negligenciamos identificá-la com atenção, respeito e afabilidade. Como se relacionar, então, com a nossa sombra?

Apenas um caminho: desenvolver crescentemente a nossa luz interior para que ela ocupe o espaço de sombra existente. A etapa inicial para a expansão da luz em nós é a aceitação. Aceitar os nossos sentimentos, desejos, ações, impulsos e pensamentos. Aceitar é entrar em contato sem reprimir. É criar uma conexão sem julgamento, uma vez que aceitação não significa condenação ou adesão passiva, mas entender, investigar e redirecionar esse patrimônio sem rigidez e desamor.

Se nós não nos aceitamos, magoamos a nós mesmos, por isso, o auto-amor é também o autoperdão. Perdoar é ter uma atitude de compaixão que nos distancie dos julgamentos e críticas severas e inflexíveis.
Há algo, porém, que nos impede de aceitarmos como somos: o orgulho. O orgulho é o sentimento de superioridade pessoal que nos faz criar ilusões sobre nossa verdadeira situação. O orgulho traz consigo a arrogância. O sentimento de arrogar significa a exacerbada estima a si mesmo, o autoconceito superdimensionado, o desejo compulsivo de se impor aos demais. O pior, ainda, é a nossa arrogância de acreditar convictamente no julgamento que fazemos acerca do nosso próximo, atitude esta que destrói profundamente a convivência humana.

A superação do orgulho se consegue através do exercício da humildade, ou seja, descobrindo-se quem se é. Nem mais, nem menos. Com a humildade, é possível se reconhecer e começar a se aceitar. Com a humildade, nasce o desejo de servir ao próximo, saindo-se de si e indo ao encontro do outro.

Após a aceitação do que temos e do que somos, superando o orgulho, devemos buscar desenvolver a autonomia dos sentimentos, que é a habilidade de gerir bons sentimentos em relação a nós mesmos; é a capacidade de libertar-se dos padrões idealizados, assumindo a sua realidade de busca do melhor possível; é libertar-se da correnteza da baixa auto-estima proveniente do subconsciente. As quatro principais vivências que conduzem a autonomia de sentimentos são: a auto-estima, a resistência emocional, saber o que se quer e escutar os sentimentos.

A pior conseqüência da falta de autonomia dos sentimentos é medir o valor pessoal pela avaliação que as pessoas fazem de nós. Por medo de rejeição, em muitas situações, agimos contra os sentimentos apenas para agradar e sentir-se incluído, aceito. Neste caso, a aprovação alheia passa a ser mais importante do que a própria aprovação interior.

Quem se ama, escuta os seus sentimentos e aprende a discernir o que quer da vida, a sua intenção-básica de existir, pois quem não sabe o que quer não toma decisões afinadas com seu íntimo e tampouco vive em paz. Quanto mais consciência se tem de suas reais intenções, mais a criatura visualiza seu futuro, sustenta seus ideais, melhora a relação consigo, alcança o clima de serenidade, dilata a sua responsabilidade e sintoniza-se com seu planejamento reencarnatório.

Quem se ama, imuniza-se contra as mágoas, guarda serenidade perante acusações, desapega-se da exterioridade como condição para o bem-estar, foca as soluções e valores, cultiva indulgência com o semelhante, tem prazer de viver e colabora espontaneamente com o bem de todos e de tudo.

Quem se ama, aprende o sentido impermanente e transitório da vida e se desprende de tudo aquilo que possa lhe aprisionar e impedir sua evolução.

Quem se ama, dispensa a imponência das máscaras e é feliz por ser quem é.

Brilhe a vossa luz!

Texto construído baseado no livro “ESCUTANDO SENTIMENTOS – A ATITUDE DE AMAR-NOS COMO MERECEMOS”, de Ermance Dufaux, por Wanderley Soares de Oliveira.

Um comentário:

JUVENTUDE ESPIRITA MENSAGEIROS DO BEM disse...

Caro Amigo Editor,
Meu nome é Bella Burgos,sou de Recife e participo de uma Juventude Espirita. Copie essa sua postagem em nosso Blog,para leitura,reflexao e comentario na nossa reuniao de estudo de hoje. Respeitei os direitos autorais ,identificando autor e endereço virtual.
Fique com Deus,
Bella